30 de dez. de 2018

Aos mestres - com respeito



O ano de 2018 foi controverso para os professores. A profissão foi questionada por muitos segmentos da sociedade brasileira.

Antes que o ano acabe o Senso Comum traz depoimentos de experiências de alunos em sala de aula, em que a presença do professor foi fundamental.


Vamos lá

A professora chorava quando os alunos tiravam notas abaixo da média. Ela comentava cada questão, reexplicava os assuntos. Durante alguns dias os estudantes ficavam tristes e cabisbaixos, inclusive os que tiravam nota alta. Era uma atitude que nos fazia repensar caminhos e buscar novos rumos de aprendizagem. Foi com esta experiência que descobrir o quão era importante aprender língua portuguesa.

Desde pequeno aprendi a visitar bibliotecas durante os intervalos das aulas, porque nas vivências da famosa orientação educacional, a professora nos incentivava a ler e a descobrir novos mundos.
Foi também na aula de orientação educacional que um dia a professora trouxe uma cédula de um cruzeiro e perguntou à turma o que deveríamos fazer caso encontrasse aquele dinheiro no meio da rua. Foi uma discussão e tanto; ela em vez de criticar ou elogiar as nossas opiniões como se fosse uma aula de educação moral e cívica, procurava trazer mais questionamentos sobre a nossa postura ética nas discussões de assuntos tão afetos à nossa formação cidadã. No final, ah, no final, ela nos disse qual era a opinião que tinha sobre o assunto. Mas antes ela ouviu cada uma das  opiniões dos educandos, criando um verdadeiro ambiente de debate. Um momento inesquecível.

Toda vez que tenho de viajar ou estou em uma cidade cujo trânsito é desconhecido, lembro das minhas aulas de geografia. A professora motivou a turma para que todos comprassem um atlas. Durante nossos encontros, a gente fazia análise das regiões brasileiras sob aspectos de clima, relevo, população, condições socioeconômicas. Ensinou também como calcular distâncias entre as localizações com base nas métricas que vinham registradas nos mapas. A partir dali a geografia passou a ser uma área do saber multicolorida e vívida para mim.

A professora chegou com um papel com transcrições de conceitos sobre a palavra Comunicação. Alguns alunos estranharam o porquê da atividade: para que  discutir definições? Por que a educadora não dava uma definição completa e única sobre o assunto? As discussões nos bastidores eram intermináveis. Com o tempo fui percebendo que a gente ia aprofundando os conhecimentos sobre um assunto a cada discussão, utilizando múltiplas referências para compreensão do mundo. Na verdade a professora estava nos ensinando a lidar com pontos de vistas diferentes e desenvolver nossa consciência crítica sobre a aprendizagem.

O professor falava pouco; tinha a voz bem baixa e estava sempre nos sinalizando para os aspectos práticos da vida nas disciplinas de contabilidade bancária e análise de balanço. A turma desconfiava dele, pois a maioria achava que no final muitos não iriam conseguir passar de ano. Mas ele, com aquele jeito quieto e respeitoso, conseguia fazer com que quase ninguém faltasse às aulas e que estudassem com dedicação. Com ele vi os colegas interagirem entre si e buscarem novas formas de aprender a cada dia. Isto não foi pelas atitudes de eloquência do educador, que era muito tímido, mas pela postura e pelo exemplo. Anos mais tarde encontrei alguns colegas das turmas de análise de balanço e contabilidade. Em conversa com muitos deles, percebi que alguns seguiram a profissão de técnico em contabilidade. Ao ver os colegas já adultos, conseguia perceber no semblante deles, a figura do professor, como uma sombra, uma marca na vida daquelas pessoas.

Tive um professor no trabalho que ministrava um da oficina sobre análise financeira de crédito. O assunto era árduo. A oficina começava com um teste de nivelamento em que a maioria não alcançava a nota 5. Todos ficavam apreensivos logo no primeiro dia do evento. Mas ela era muito habilidoso no relacionamento com o grupo e fez a maioria aprender muito sobre os  conteúdos da oficina. No último dia, ele realizou um jogo com a turma para revisar os conteúdos da ação educacional. Estava lá a turma feliz e envolvida com a didática criada por ele. Com a dinâmica das aulas a turma tinha aprendido os conteúdos e criado laços sociais mais consistentes. Que lembrança boa!

Os professores de que mais me lembro foram aqueles que abriram o mundo das discussões e das conversas; eles não trouxeram respostas prontas nem impuseram estereótipos sobre a realidade.  Elas e eles tiveram a coragem e a humildade de aprender junto com a turma. Não tiveram medo de errar; não se apegaram às certezas, mas procuraram construir com os alunos os caminhos da aprendizagem.

Com respeito, obrigado professores


Até a próxima!

9 de set. de 2018

Café com Canela

Foto Café com Canela



Café com Canela trabalha com profundidade os símbolos e as representações sociais da cultura baiana e mergulha no pensar e no sentir do self não normativo: da representação social que vive na margem das discussões de intelecto e sobrevive sublimada nas sociabilidades de classes da população baiana.

A simbologia do filme é expressa por flores. Uma delas é Margarida, que também é o    Café: negra de pela retinta, bem escura, cheia de energia, mas que de repente se transforma em pó. O pó que não passa mais no coador. E de molhado vai ressecando com as intempéries da vida.

Já Violeta, a outra flor, passou por penúrias na vida e soube aprender com os exemplos de Café a se tornar protagonista nos momentos de desespero da própria existência.

Violeta é a negra cor de Canela, que subverte a vida de Café para redimensionar o destino das duas.  Afinal de contas todos carregamos as dores do mundo.

"Você não sabe da minha dor"

A ausência é um sinal de nossa humanidade: o marido sente falta da esposa em estado de depressão; a mãe sente a ausência do filho que não voltará mais; a discípula sente saudade da mestra, que entrou em ebulição interior; o médico chora a partida do marido, que era como um girassol a rodopiar no relacionamento não hétero e não patriarcal.

E as flores formam o símbolo da união de mestra e discípula, fazendo-as iniciar uma dança entre pétalas e espinhos, pois o viver junto traz em si a responsabilidade pelo outro e com tudo que advém das dores e dos prazeres do ato de conviver.

Não há panfletagem nem estereótipos em Café com Canela, pois o olhar de quem narrou a história se situa no lado de cada personagem, tentando perscrutar cada desejo e cada angústia de cada ser; a história resgata o riso livre e descontraído de quem fala e se instaura no mundo, ao mesmo tempo em que permite aos personagens assumirem várias máscaras diante do adverso e do incontornável.

Outras sutilezas vão desfilando na história: a bicicleta como persistência ante os infortúnios; os movimentos das águas estimulando o silêncio diante de situações que reclamam por gritos. Isto tudo com uma narrativa que nos convida a pensar o quanto precisamos nos voltar para a história dos silenciados, em um exercício da escuta ativa que nos faça vislumbrar outros mundos possíveis.

Café com Canela é arquétipo do feminino: - quantos homens teriam tranquilidade de deixar as esposas saírem para balada? - Quantos homens respeitariam o luto e a reclusão da mulher amada?

Há cenas especiais na história que as palavras aqui expressas não conseguirão descrever:  como o jogo de cena das três portas abertas, fisgando a atenção do espectador para o cotidiano da velha Cachoeira ou mesmo o jogo de vozes entrecortadas das conversas do povo em gargalhadas, desmistificando a ordem do turno de falas.

Precisa-se ver e ouvir.

Café com canela é discussão sobre sabedoria. Sabedoria que está nas entranhas da mulher do povo, que se protagoniza a cada labuta que insurge dia a dia.

Café com Canela representa uma outra forma de olhar o cinema.

Até a próxima!

24 de jun. de 2018

O redemoinho das figurinhas


Ou como as figurinhas me ensinaram a viver





Passei pela praça e vi muitas pessoas em torno da banca de revistas. Estava um burburinho. Na livraria do shopping, um salão foi reservado para aquela multidão. As pessoas estavam tão absorvidas que não olhavam para o lado de fora.

Havia senhoras com mais de 60 anos, adolescentes dos 15 aos 30 anos; quarentões se alternavam de mesa em mesa procurando alguma peça que ainda não tinham encontrado.


figurinhas, diversão, cultura
Imagem Redemoinho das Figurinhas

Na livraria outro amontoado de pessoas: dois garotos gritavam alucinados, pois haviam encontrado a tão sonhada figurinha.

22 de abr. de 2018

35 ciclos de um disco navegante





Maria Bethânia

Daqui a 35 anos, o disco Ciclo completará 70 anos de lançado. Caso alguém deseje escrever sobre a obra, e fazer algum comentário sobre Maria Bethânia, é provável que não encontrará noticiários sobre Bethânia como uma celebridade. Como a artista que vendeu milhões de discos ou que foi recordista de downloads. Dificilmente verá noticiários sobre a roupa que ela vestia ou se esteve em programas de auditórios, fazendo julgamento das qualidades musicais alheias.

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