O ano de 2018 foi
controverso para os professores. A profissão foi questionada por muitos
segmentos da sociedade brasileira.
Antes que o ano
acabe o Senso Comum traz depoimentos de experiências de alunos em sala de aula,
em que a presença do professor foi fundamental.
Vamos lá
A professora chorava
quando os alunos tiravam notas abaixo da média. Ela comentava cada questão,
reexplicava os assuntos. Durante alguns dias os estudantes ficavam tristes e
cabisbaixos, inclusive os que tiravam nota alta. Era uma atitude que nos fazia
repensar caminhos e buscar novos rumos de aprendizagem. Foi com esta
experiência que descobrir o quão era importante aprender língua portuguesa.
Desde pequeno
aprendi a visitar bibliotecas durante os intervalos das aulas, porque nas
vivências da famosa orientação educacional, a professora nos incentivava a ler
e a descobrir novos mundos.
Foi também na aula
de orientação educacional que um dia a professora trouxe uma cédula de um
cruzeiro e perguntou à turma o que deveríamos fazer caso encontrasse aquele
dinheiro no meio da rua. Foi uma discussão e tanto; ela em vez de criticar ou
elogiar as nossas opiniões como se fosse uma aula de educação moral e cívica,
procurava trazer mais questionamentos sobre a nossa postura ética nas
discussões de assuntos tão afetos à nossa formação cidadã. No final, ah, no
final, ela nos disse qual era a opinião que tinha sobre o assunto. Mas antes
ela ouviu cada uma das opiniões dos
educandos, criando um verdadeiro ambiente de debate. Um momento inesquecível.
Toda vez que tenho
de viajar ou estou em uma cidade cujo trânsito é desconhecido, lembro das
minhas aulas de geografia. A professora motivou a turma para que todos
comprassem um atlas. Durante nossos encontros, a gente fazia análise das
regiões brasileiras sob aspectos de clima, relevo, população, condições
socioeconômicas. Ensinou também como calcular distâncias entre as localizações
com base nas métricas que vinham registradas nos mapas. A partir dali a
geografia passou a ser uma área do saber multicolorida e vívida para mim.
A professora chegou
com um papel com transcrições de conceitos sobre a palavra Comunicação. Alguns
alunos estranharam o porquê da atividade: para
que discutir definições? Por que a
educadora não dava uma definição completa e única sobre o assunto? As
discussões nos bastidores eram intermináveis. Com o tempo fui percebendo que a
gente ia aprofundando os conhecimentos sobre um assunto a cada discussão,
utilizando múltiplas referências para compreensão do mundo. Na verdade a
professora estava nos ensinando a lidar com pontos de vistas diferentes e
desenvolver nossa consciência crítica sobre a aprendizagem.
O professor falava
pouco; tinha a voz bem baixa e estava sempre nos sinalizando para os aspectos
práticos da vida nas disciplinas de contabilidade bancária e análise de
balanço. A turma desconfiava dele, pois a maioria achava que no final muitos
não iriam conseguir passar de ano. Mas ele, com aquele jeito quieto e
respeitoso, conseguia fazer com que quase ninguém faltasse às aulas e que
estudassem com dedicação. Com ele vi os colegas interagirem entre si e buscarem
novas formas de aprender a cada dia. Isto não foi pelas atitudes de eloquência
do educador, que era muito tímido, mas pela postura e pelo exemplo. Anos mais
tarde encontrei alguns colegas das turmas de análise de balanço e
contabilidade. Em conversa com muitos deles, percebi que alguns seguiram a
profissão de técnico em contabilidade. Ao ver os colegas já adultos, conseguia
perceber no semblante deles, a figura do professor, como uma sombra, uma marca
na vida daquelas pessoas.
Tive um professor no
trabalho que ministrava um da oficina sobre análise financeira de crédito. O
assunto era árduo. A oficina começava com um teste de nivelamento em que a
maioria não alcançava a nota 5. Todos ficavam apreensivos logo no primeiro dia
do evento. Mas ela era muito habilidoso no relacionamento com o grupo e fez a
maioria aprender muito sobre os
conteúdos da oficina. No último dia, ele realizou um jogo com a turma
para revisar os conteúdos da ação educacional. Estava lá a turma feliz e
envolvida com a didática criada por ele. Com a dinâmica das aulas a turma tinha
aprendido os conteúdos e criado laços sociais mais consistentes. Que lembrança
boa!
Os professores de
que mais me lembro foram aqueles que abriram o mundo das discussões e das
conversas; eles não trouxeram respostas prontas nem impuseram estereótipos
sobre a realidade. Elas e eles tiveram a
coragem e a humildade de aprender junto com a turma. Não tiveram medo de errar;
não se apegaram às certezas, mas procuraram construir com os alunos os caminhos
da aprendizagem.
Com respeito, obrigado professores
Até a
próxima!