24 de jun. de 2018

O redemoinho das figurinhas


Ou como as figurinhas me ensinaram a viver





Passei pela praça e vi muitas pessoas em torno da banca de revistas. Estava um burburinho. Na livraria do shopping, um salão foi reservado para aquela multidão. As pessoas estavam tão absorvidas que não olhavam para o lado de fora.

Havia senhoras com mais de 60 anos, adolescentes dos 15 aos 30 anos; quarentões se alternavam de mesa em mesa procurando alguma peça que ainda não tinham encontrado.


figurinhas, diversão, cultura
Imagem Redemoinho das Figurinhas

Na livraria outro amontoado de pessoas: dois garotos gritavam alucinados, pois haviam encontrado a tão sonhada figurinha.


E assim a gente observa a cultura da coleção de figurinhas acontecer de quatro em quatro anos com o advento da copa do mundo.

Na década de 1970 o hábito das figurinhas durava o ano todo. Era coleção de jogadores de futebol; as novelas faziam muito sucesso, e os colecionadores adoravam ter fotos dos artistas da época, mais figurinhas...

Havia também as figurinhas didáticas sobre história do Brasil, atlas mundial e atualidades. Alguns álbuns tinham características de pequenas enciclopédias, com informações que os estudantes gostavam de usar para estudar nas escolas.

As escolas recebiam visitas de distribuidores, que davam brindes aos estudantes, geralmente era um álbum vazio acompanhado com alguns pacotes de figuras, para influenciar os hábitos dos pequenos em colecionar figurinhas.

Lembro de um período em que as figuras se tornaram um redemoinho em minha vida. Eu não era apenas colecionador: jogava com as figurinhas todo dia.

Era de manhã, de tarde e à noite. Meu tempo era só figurinha. Meus amigos de escola e de rua se limitavam aos que jogavam figurinhas comigo. Minha vida era só a roleta russa do viciante “troca e joga” figurinhas.

Isto tudo foi durante muito tempo, até que recebi meu boletim da escola com a maioria das notas abaixo das médias. Levei o boletim para casa cabisbaixo, muito triste mesmo.

Em casa minha mãe leu minuciosamente o quadro de notas e começou a chorar. Ela falava sem parar: "São essas figuras, são essas figuras".

Aqueles gritos de minha mãe atravessaram minha consciência e, aos poucos, fui deixando o vício das figurinhas. Mas quando via alguém com um álbum, vinha uma vontade enorme de voltar a jogar. Com o tempo não havia mais vontade de manipular aqueles pedações de papel.


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Imagem do pacote MS Oficce


Agora estou olho as pessoas tão alegres com as figuras da copa; olho também meu passado e vejo as imagens do menino que um dia se divertiu muito e aprendeu com uma brincadeira que, na época, era o centro de atenção de muita gente e hoje mais de parece com uma estação do ano, que volta de tempos em tempos e depois vai embora deixando saudades.

Avisto o redemoinho ao qual estive no centro e sinto que minha história se parece com história do Mágico de Oz: uma viagem de altos e baixos, que contribuiu para a minha formação como pessoa.

Daqui a alguns dias estas lembranças vão descansar novamente e voltarão daqui a quatro anos como se fossem um farol recontando a história de minha existência.

Até a próxima!

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