Ou como as figurinhas me ensinaram a viver
Passei pela praça e vi muitas pessoas em torno da
banca de revistas. Estava um burburinho. Na livraria do shopping, um salão foi
reservado para aquela multidão. As pessoas estavam tão absorvidas que não
olhavam para o lado de fora.
Havia senhoras com mais de 60 anos, adolescentes
dos 15 aos 30 anos; quarentões se alternavam de mesa em mesa procurando alguma
peça que ainda não tinham encontrado.
Imagem Redemoinho das Figurinhas |
Na livraria outro amontoado de pessoas: dois
garotos gritavam alucinados, pois haviam encontrado a tão sonhada figurinha.
E assim a gente observa a cultura da coleção de
figurinhas acontecer de quatro em quatro anos com o advento da copa do mundo.
Na década de 1970 o hábito das figurinhas durava
o ano todo. Era coleção de jogadores de futebol; as novelas faziam muito
sucesso, e os colecionadores adoravam ter fotos dos artistas da época, mais
figurinhas...
Havia também as figurinhas didáticas sobre
história do Brasil, atlas mundial e atualidades. Alguns álbuns tinham
características de pequenas enciclopédias, com informações que os estudantes
gostavam de usar para estudar nas escolas.
As escolas recebiam visitas de distribuidores,
que davam brindes aos estudantes, geralmente era um álbum vazio acompanhado com
alguns pacotes de figuras, para influenciar os hábitos dos pequenos em
colecionar figurinhas.
Lembro de um período em que as figuras se
tornaram um redemoinho em minha vida. Eu não era apenas colecionador: jogava
com as figurinhas todo dia.
Era de manhã, de tarde e à noite. Meu tempo era
só figurinha. Meus amigos de escola e de rua se limitavam aos que jogavam
figurinhas comigo. Minha vida era só a roleta russa do viciante “troca e joga”
figurinhas.
Isto tudo foi durante muito tempo, até que recebi
meu boletim da escola com a maioria das notas abaixo das médias. Levei o
boletim para casa cabisbaixo, muito triste mesmo.
Em casa minha mãe leu minuciosamente o quadro de
notas e começou a chorar. Ela falava sem parar: "São essas figuras, são
essas figuras".
Aqueles gritos de minha mãe atravessaram minha
consciência e, aos poucos, fui deixando o vício das figurinhas. Mas quando via
alguém com um álbum, vinha uma vontade enorme de voltar a jogar. Com o tempo
não havia mais vontade de manipular aqueles pedações de papel.
Imagem do pacote MS Oficce |
Agora estou olho as pessoas tão alegres com as
figuras da copa; olho também meu passado e vejo as imagens do menino que um dia
se divertiu muito e aprendeu com uma brincadeira que, na época, era o centro de
atenção de muita gente e hoje mais de parece com uma estação do ano, que volta
de tempos em tempos e depois vai embora deixando saudades.
Avisto o redemoinho ao qual estive no centro e
sinto que minha história se parece com história do Mágico de Oz: uma viagem de
altos e baixos, que contribuiu para a minha formação como pessoa.
Daqui a alguns dias estas lembranças vão
descansar novamente e voltarão daqui a quatro anos como se fossem um farol
recontando a história de minha existência.
Até a próxima!
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