29 de jan. de 2018

Nêgo Roque e OQuadro

 Imagem do disco Nego Roque, OQuadro



Você acredita em destino? Pois é, percorri 473 KM de São José da Vitória (região cacaueira) a Salvador para ver os meninos de OQuadro na abertura do show de Édson Gomes, na Concha Acústica de Salvador. Que destino: saio da terra deles para ouvi-los em casa.



Os garotos são da região cacaueira, lá da cidade de São Jorge dos Ilhéus, e estão aí para mostrar muito mais que cravo e canela nas terras saudadas por Jorge Amado.

Se alguém me perguntasse que tipo de música eles cantam, eu diria que seria o pós-musical, que vai da batida dos tambores e cordas africanos aos toques da música de raiz do recôncavo baiano, passando pelo Punk, Rock e outras coisas mais.

Com eles pude perceber o quanto há de semelhanças entre o som africano moderno de Fela Kuti e os acordes sonantes de Santo Amaro da Purificação e Cachoeira, na Bahia. Eles são transversais e multirreferenciados.

O show teve como base o disco Nêgo Roque, uma obra para se ouvir, para se pensar e se sensibilizar. Mas não imagine uma sensibilidade confortável, só de prazer e alegria, mas uma sensibilidade que incomoda e desloca, pois eles nos convidam a olhar de novo o que está posto.

A maior parte da autoria das musicas é dos componentes da banda. São 12 letras reivindicatórias e afirmativas. Reivindicatórias por tratar de questões sociais das mais conhecidas e discutidas há muito no Brasil; afirmativa por criar identidade própria ao trazer Rock, Punk, Rap e Maculelê como arte multicolorida, que integra, mistura e cria o novo liberto.

Quanto aos sons, é difícil classificar a banda em tendência A ou B da música baiana, pois os garotos instauram um jeito diferenciado de fazer música na Bahia, que não é Axé, não é Samba, não é Chula.



E o que é a música de OQuadro? É preciso ouvi-los.

Jogo de Palavras

Olha o que o meninos estão dizendo

“Mesma cara mal lavada, mesma levada, obra superfaturada.
Mesma gente enganada, sem sobremesa, só marmelada,”

“Africa is not a country"

"O mesmo filme repetido entre o trabalho e o lar.
Vivendo a vida como um vinil de uma só track"

"Quem contradiz me diz
A verdade por um triz"

"Me diz quanto vale sua dor?
Me diz quanto vale seu amor?
Me diz quanto vale?
Nossa dor balança o chão da praça?
Nossa dor, me diz quanto vale?”

"Não rezo terço e nem bato continência,
Punhos fechado pelo amor é resistência."

“Estudar cultura é dar firmeza nas linhas"

"Quem disse que meu povo não tem voz
Aumenta o volume”

“A verdade precisa de quem milite em nome dela”

"Que tenhamos a vista cansada de tanto ler”

“Dividir o pão é a verdadeira revolução factível"

“Não precisamos de uma mansão, precisamos de um lar”


A que assisti? Nêgo Roque
De quem foi o show? O quadro
Quando? 2018
Onde? Concha Acústica do Teatro Castro Alves
Quem produziu? Caderno Dois Produções (Projeto MPB Petrobras)
O que achei? Excelente!

Até a próxima!

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